Les Demoiselles Cahen d'Anvers - Rose et Bleue (Renoir)
A ti, meu amor será eterno
e mudo, e vago, e quente e vil
solo fértil, prata do Nilo
e mudo, e vago, e quente e vil
solo fértil, prata do Nilo
poeira fina de dourado e anil
Do céu, trarei versos cintilantes
e da bruma o que jamais viu
trarei marca, trarei semente
e a ti, meu amor, serei entregue, servil.
A ti, meu amor será ardente
e trará fogo e medo ao teu porvir
serei Marte, serei mais
serei tudo aquilo que pedir.
A ti, meu amor, serei atenta
e muda, e vaga, e quente e vil
e muda, e vaga, e quente e vil
farei de seu inverno migalhas de frio
de sono, de sossêgo, de noites de abril
e o verão será das noites que me farei amar, no cio.
A ti, meu amor, serei eterna
e ouvirás notícias de mim
em dias que a chuva cair,
em noites que a lua luzir
e farei de ti o homem mais feliz que da Terra já se ouviu partir.
Um comentário:
As cores que Renoir escolheu para os vestidos das meninas mostram a nobreza e a graça instintivamente femininas presentes no arquétipo da pose. As meninas tornam-se reais ao olhar.
A de azul exala vaidade, a de rosa certo enfado, os olhos prontos às lágrimas. Diante de uma pesada cortina, as meninas, vestidas e penteadas de forma irretocável, dão-se as mãos em segurança. Vestidas de princesa, cabelos de princesa.
A mais velha se posta com a nobreza que lhe faz. Face altiva, braços alongados, rosto centrado em si mesma, ereta. Mesmo o último dos dedinhos posa. Essa é a minha princesa de azul.
A mais nova é toda rosa e cheia de graça. Descansa uma das mãos na cintura e descansa o braço apoiando o polegar na faixa. É mais baixa e está com um vestido igual ao da outra, com detalhes de outra cor. Seu olhar suplica impaciente: pronto, tio Renoir? Posso tirar o sapato? Eis minha princesa de rosa.
Renoir pintou a menina de rosa e a menina de azul no mesmo quadro. Uma se postando diante da outra, pois fatores em certa ordem o produto altera. O azul diante do rosa, um mundo de pé, o outro a se transformar. A menina de azul bem à vontade. A menina de rosa parecendo enfadada. Rosa e azul no mesmo quadro.
Assim é que minha amada as enquadra, as abriga e dá-lhes existência. Assim é que feliz a observo tornar-se real ao meu olhar.
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