terça-feira, 20 de maio de 2008

Liberdade


Salvador Dali, A persistência da memória, 1931.


É tempo de coisa moderna
é tempo de revolução
Ao passeio leve a certeza
com cortejo a indecisão.

Não são estas palavras minhas
é do lúcido o sermão
mente sem caco ou dívida
valhe nada ou outro pouco
é como homem roto
morre de inanição.

Pois aquele que semeia livros,
que pensa e manda pensar
é na história mestre bendito
na lida intrépito e faminto
no mundo pássaro a voar.

É tempo de coisa moderna
É tempo de revolução
Levanta a bandeira do tempo
dá luz ao pensamento
e liberdade à multidão.


segunda-feira, 19 de maio de 2008

Revelação


Caravaggio

Despeço-me assim
deste último capítulo
deixa o vil o púlpito
ao novo som do clarim.

Abram alas, portas e espaços
é dama-luz em procissão
mãos ao alto, pés no chão
de azul imenso, imensidão

Homens de grandes batalhas
líderes do sangue ao pó
são muitos e muito clamam
pela benção da imagem só.

E do alto emoldurada
a grande alma, mãe beatificada
espalha aos seus a notícia
não invejem das crianças o segredo
pois nada é mais vil que o medo
de ficar só na última jornada

Para cada um, um caminho
com o mesmo mistério guardado
escrito em sâncrito, dito em latim
benvindo o fruto vindo a mim
é da intenção feito o sagrado.

Sois livre agora e sempre
que livre for seu coração
guarda ao lado da cama
minha medalha abençoada
faz dele púlpito em sua morada
e cante ao pai uma oração.









segunda-feira, 12 de maio de 2008

Prelúdio

Talvez a lua vendo em minh'alma
de minhas batalhas a febre tola
diga às águas mouras
vai e cala, deságua, e voa.

Serpentina


Morris Louis, Number 99, 1959-1960


Não por meu pés
mas viajo distâncias imensas.
Lanço palavras, liberto-as
e as caço como quem as intenta.

São minha rosa mística
minha rosa-dos-ventos
minha rota de velas.

Não por meus pés
mas caminho por dimensões infinitas.

E ultrapasso esferas de cores
norteio ondas, de finco e de fé
e lhes encanto a dor
de mar, de Maria, de Mariana
em corpo vão, em mente sana
e volto a mim, para ti, para o que és.

domingo, 11 de maio de 2008

Florescer de eterno adeus




Andas
e já te vejo partir.

Falas
e a distância se mistura em ti.

Vestes
e o pedaço que outrora
seria de vívida cantante
já pressente e o ancora
no quando te conheci.

Eras anjo de azul cristalino
com olhos de diamante
tábula rasa é nada, é fábula
pois é longínquo meu carinho
e nós de muito dantes.

Mas o florescer da partida
que tuas descobertas aninha
anuncia que é chegada tua hora
voa andorinha minha
que a vida é sorte, é sina
e tua glória repousa em minh'alma.


quinta-feira, 8 de maio de 2008

Clube das Luluzinhas





Então, apresento-lhes meu clube
E de saída já às agradeço
Maria, Marta e Cecília
carrego-as todas com apreço.

Em uma, o amor é vivo
e sentido a cada pedaço
é feito de dor, de cor e de alegria
sem a qual na saudade me acho.

Noutra, me guio em pura magia
que se alastra no tempo e no espaço
"O amor será seu guia"
Diz-me sem nenhum embaraço.

A última, linda querida
transpira puro sentimento
e mesmo quando em lamento
se apresenta minha liturgia
ela me visita em sonhos
"volte pra alma, minha menina".

terça-feira, 6 de maio de 2008

Ariadne e Baco


Eugène Delacroix - o outono - baco encontra ariadne

Se me guias,
É porque escolheste a mim

Se me guias
É porque escolheste o meu para teu sossego
A minha para tua vida
Porque escolheste a mim

Se me guias
É porque em mim reside o fio do teu lamento
E em mim a salvaguarda de tua esperança

Se me guias
É porque me tens

Se me guias
É porque me enxergas em teu vazio
E em mim lamuria a tua existência

Se me guias
É porque me tens.
Porque me queres em ti
Porque me queres para ti

Se me guias
Tenho eu também o que é seu
Tenho sua alma presa a minha
Tua estrada imersa a minha
Porque tenho a ti

Se me guias
É porque me tens.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Indulto a um coração negro

Quem és tu, humana criatura
que afagas no colo o abutre
e o cega com tuas falácias?

Por que a ti seduz a ventura
de criar cirandas de embuste
e um jardim de meias palavras?

Vê que é inútil a usura
dos poderes que a ti incumbiste
o Senhor de todas as almas.

Que o dourado que procuras
não ilumina o punhal em riste
mas a cura de tuas chagas.

Serena, coração negro.

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