quarta-feira, 18 de junho de 2008

Festival Hai Kai

A folha
sem vento
vai

Sinto
Ardo
no frio


Mente aberta
coração fechado
balanço


Cê tu
livre
e te liberta

Meu tempo passa
eu mudo
e acordo atrasada

domingo, 15 de junho de 2008

Remoçada


Pablo Picasso. Girl Before a Mirror. 1932.


Jaz aqui, a musa do meio-dia
a diva das vontades, a enguia
a louca das palavras sem fim

Jaz aqui, a pérola falsa
o torpor de amantes em valsa
a discórdia em seu galarim

Jaz aqui e adiante
a vida em blasfema e ofegante
a crença em diastema e vacilante
nossa juras de amor em latim

Jaz aqui, um mim antigo
um eu feio e avelhantado
um lado meu sem trato e cuidado
uma carne sem alma, chinfrim

Mas nasce aqui, simultâneo
um ser leve, Mediterrâneo
de mar e areia, de céu profano
com um novo amor carmim.








quarta-feira, 11 de junho de 2008

O segredo do futuro


Pino Daeni


E fez-se o silêncio...

E a brisa leve e suave
chegou com paz para os pequenos
pesando-lhes as pálpebras,
adormecendo-lhes a alma
num leve estalar de dedos.

Como mágica e por encanto
a mágoa triste dos cansados
fez-se enredo para alados
magos, fadas e criaturas
de cores mil, em miniatura
cochichar-lhes segredos e bravuras.

Num suspiro, desfez-se os laços
que cruzam as pernas em concha
que amarram os cabelos em cachos
que os prendem a real vida, de fato.

E embarcaram na fantasia
pequenos grilos, grandes falantes
para esperança de amáveis Gepetos
para descanso de baleias gigantes
e retomada das fadas à lida.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Aos nossos heróis



É tarde.
Deixa mudo o pensamento
E encosta o violão
Empresta a seus dedos
O som gravado da viola
Puxa o banco, senta e olha
Os carros do lado de fora
E os meninos na contramão.

Tem beleza também na rua
Na senhora semi-nua
Num grisalho coração

Tem beleza uma voz trêmula
A memória com emenda
Ao cantar uma canção

Tem beleza também o adeus
Num último acorde
Num meio-tom que se aforre
No encerrar de um refrão

Tem beleza, é verdade
Mas esta também se desfaz
Pois até para os imortais
Que namoram o infinito
Há que se pagar portagem
Pela vida que é viagem
E o tempo inquisição.

É tarde
Deixa de lado a vaidade
E encosta o esforço, em vão
Empresta aos olhos
o som gravado da viola
Puxa o banco, senta e olha
A vida do lado de fora
e sua música, solta na amplidão.



Arquivo do blog