É tarde.
Deixa mudo o pensamento
E encosta o violão
Empresta a seus dedos
O som gravado da viola
Puxa o banco, senta e olha
Os carros do lado de fora
E os meninos na contramão.
Tem beleza também na rua
Na senhora semi-nua
Num grisalho coração
Tem beleza uma voz trêmula
A memória com emenda
Ao cantar uma canção
Tem beleza também o adeus
Num último acorde
Num meio-tom que se aforre
No encerrar de um refrão
Tem beleza, é verdade
Mas esta também se desfaz
Pois até para os imortais
Que namoram o infinito
Há que se pagar portagem
Pela vida que é viagem
E o tempo inquisição.
É tarde
Deixa de lado a vaidade
E encosta o esforço, em vão
Empresta aos olhos
o som gravado da viola
Puxa o banco, senta e olha
A vida do lado de fora
e sua música, solta na amplidão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário